A qualidade da democracia depende essencialmente da participação dos cidadãos na vida das comunidades em que se inserem, da sua intervenção crítica consciente, estruturada, da sua capacidade de exigência de rumo e de rigor em relação aos seus eleitos.
O marketing político, os especialistas da comunicação e imagem, procuram, naturalmente, potenciar junto da opinião pública, as realizações dos eleitos, transformando actos da actividade corrente em acontecimentos de relevo, amplamente divulgados na comunicação social, muitas vezes com uma amplitude claramente desproporcionada.
É assim, seja na política local, seja na política nacional.
Façamos algumas reflexões avulsas sobre a realidade da nossa comunidade municipal:
Dá-se uma extraordinária importância ao nascimento das grandes superfícies, as chamadas catedrais do consumo, aos centros comerciais, agora mais pomposamente designados por “shopping center”.
Não vou ao ponto de ignorar que trazem algumas vantagens, como uma maior e mais variada oferta, algum emprego.
Mas por mais feérica que seja a iluminação, não podemos deixar que nos cegue, ao ponto de esquecermos a outra face da moeda, a desertificação do centro da cidade, a decadência do comércio tradicional, o desaparecimento de lojas ícones da cidade, a revolução do paradigma do comércio a retalho, com consequências que neste momento ainda ninguém sabe avaliar.
Foi inaugurado recentemente, com grande pompa e circunstância e com despesa a condizer, a chamada Praça da Cidade.
Queimou-se muito fogo-de-artifício, que o mesmo é dizer, queimou-se muito dinheiro, animou-se o povo com altos espectáculos, transformou-se o acto de inauguração num grande acontecimento, fonte de felicidade para todos nós.
No dia seguinte, apanharam-se as canas dos foguetes, pagaram-se as contas.
Então não é bom ter mais uma praça na cidade? Ainda para mais que até nem está feia, apesar de ainda lhe faltar muito verde? Claro que é bom! Aquele local devia ter sido intervencionado há muito tempo!
Mas nem por isso devemos inibir-nos de questionar se está tudo bem nesta realização.
Lamentavelmente, decorreram as “festas” sem que ninguém tenha perguntado se o modelo de negócio que a Autarquia adoptou é o que melhor serve o interesse dos Oliveirenses. É que a Praça da Cidade está feita, mas o seu pagamento vai demorar alguns anos, através da contrapartida das verbas do parqueamento, verbas que seriam receitas do nosso Município, se fossemos mais realistas e construíssemos, sem parcerias, um equipamento mais simples e apelativo para a generalidade dos Oliveirenses.
Está pronta a Biblioteca, proximamente teremos a piscina, o arquivo, a escola de enfermagem.
São obras bem-vindas? Claro que são. Ainda bem que se concretizaram, porque são obras necessárias, que contribuem para a qualidade da nossa cidade e do nosso concelho.
Mas nem por isso podemos dar-nos por satisfeitos, não podemos confundir a Nuvem por Juno e aceitar passivamente que tudo está bem.
Porque não está. Continua a faltar-nos o essencial e parece que o brilho das luzes faz muita gente esquecer-se desta realidade.
Continuamos sem instrumentos básicos de planeamento e ordenamento do território, tarda o PDM, tardam os Planos de Pormenor e em contrapartida celebrou-se recentemente, com grande aparato, um acordo com a Parque Expo, ao que dizem para “elaboração do estudo de enquadramento estratégico para a reabilitação urbana da cidade”. Sabemos que nos vai custar muito dinheiro, mas não se sabe se terá alguns efeitos práticos.
Parece que convém a alguns que tudo continue assim, para que as coisas se vão resolvendo discricionária e casuisticamente.
O Município ficou atrás naquela que deveria ter sido a sua primeira prioridade, a de dotar toda a população com água e saneamento.
Não o fez, quando era fácil conseguir financiamento público e agora procuram-se soluções alternativas para a construção destas infra-estruturas básicas, soluções que ao envolverem privados, expõem recursos e equipamentos vitais para o cidadão, à lógica do lucro.
O mesmo se passa com as infra-estruturas industriais. Não foram feitas e os resultados estão à vista. Já não são só receios de abandono do Concelho, são casos concretos de empresários que demandam os concelhos vizinhos, para aí desenvolverem as suas fábricas, para aí produzirem riqueza, essa sim riqueza, valor acrescentado, que não consumo.
Em vez de deixarmos às novas gerações um concelho moderno, dinâmico, preparado para as dificuldades que o mundo louco em que vivemos nos deixou, capaz de aqui fixar os seus filhos, de lhes oferecer oportunidades para porem à prova os seus talentos, de atrair quadros que possam trazer-nos conhecimento, experiências, desenvolvimento, o que temos para lhes deixar como herança, são carências básicas, um pântano financeiro e uma população entorpecida pela nuvem que lhe dizem ser Juno.
O marketing político, os especialistas da comunicação e imagem, procuram, naturalmente, potenciar junto da opinião pública, as realizações dos eleitos, transformando actos da actividade corrente em acontecimentos de relevo, amplamente divulgados na comunicação social, muitas vezes com uma amplitude claramente desproporcionada.
É assim, seja na política local, seja na política nacional.
Façamos algumas reflexões avulsas sobre a realidade da nossa comunidade municipal:
Dá-se uma extraordinária importância ao nascimento das grandes superfícies, as chamadas catedrais do consumo, aos centros comerciais, agora mais pomposamente designados por “shopping center”.
Não vou ao ponto de ignorar que trazem algumas vantagens, como uma maior e mais variada oferta, algum emprego.
Mas por mais feérica que seja a iluminação, não podemos deixar que nos cegue, ao ponto de esquecermos a outra face da moeda, a desertificação do centro da cidade, a decadência do comércio tradicional, o desaparecimento de lojas ícones da cidade, a revolução do paradigma do comércio a retalho, com consequências que neste momento ainda ninguém sabe avaliar.
Foi inaugurado recentemente, com grande pompa e circunstância e com despesa a condizer, a chamada Praça da Cidade.
Queimou-se muito fogo-de-artifício, que o mesmo é dizer, queimou-se muito dinheiro, animou-se o povo com altos espectáculos, transformou-se o acto de inauguração num grande acontecimento, fonte de felicidade para todos nós.
No dia seguinte, apanharam-se as canas dos foguetes, pagaram-se as contas.
Então não é bom ter mais uma praça na cidade? Ainda para mais que até nem está feia, apesar de ainda lhe faltar muito verde? Claro que é bom! Aquele local devia ter sido intervencionado há muito tempo!
Mas nem por isso devemos inibir-nos de questionar se está tudo bem nesta realização.
Lamentavelmente, decorreram as “festas” sem que ninguém tenha perguntado se o modelo de negócio que a Autarquia adoptou é o que melhor serve o interesse dos Oliveirenses. É que a Praça da Cidade está feita, mas o seu pagamento vai demorar alguns anos, através da contrapartida das verbas do parqueamento, verbas que seriam receitas do nosso Município, se fossemos mais realistas e construíssemos, sem parcerias, um equipamento mais simples e apelativo para a generalidade dos Oliveirenses.
Está pronta a Biblioteca, proximamente teremos a piscina, o arquivo, a escola de enfermagem.
São obras bem-vindas? Claro que são. Ainda bem que se concretizaram, porque são obras necessárias, que contribuem para a qualidade da nossa cidade e do nosso concelho.
Mas nem por isso podemos dar-nos por satisfeitos, não podemos confundir a Nuvem por Juno e aceitar passivamente que tudo está bem.
Porque não está. Continua a faltar-nos o essencial e parece que o brilho das luzes faz muita gente esquecer-se desta realidade.
Continuamos sem instrumentos básicos de planeamento e ordenamento do território, tarda o PDM, tardam os Planos de Pormenor e em contrapartida celebrou-se recentemente, com grande aparato, um acordo com a Parque Expo, ao que dizem para “elaboração do estudo de enquadramento estratégico para a reabilitação urbana da cidade”. Sabemos que nos vai custar muito dinheiro, mas não se sabe se terá alguns efeitos práticos.
Parece que convém a alguns que tudo continue assim, para que as coisas se vão resolvendo discricionária e casuisticamente.
O Município ficou atrás naquela que deveria ter sido a sua primeira prioridade, a de dotar toda a população com água e saneamento.
Não o fez, quando era fácil conseguir financiamento público e agora procuram-se soluções alternativas para a construção destas infra-estruturas básicas, soluções que ao envolverem privados, expõem recursos e equipamentos vitais para o cidadão, à lógica do lucro.
O mesmo se passa com as infra-estruturas industriais. Não foram feitas e os resultados estão à vista. Já não são só receios de abandono do Concelho, são casos concretos de empresários que demandam os concelhos vizinhos, para aí desenvolverem as suas fábricas, para aí produzirem riqueza, essa sim riqueza, valor acrescentado, que não consumo.
Em vez de deixarmos às novas gerações um concelho moderno, dinâmico, preparado para as dificuldades que o mundo louco em que vivemos nos deixou, capaz de aqui fixar os seus filhos, de lhes oferecer oportunidades para porem à prova os seus talentos, de atrair quadros que possam trazer-nos conhecimento, experiências, desenvolvimento, o que temos para lhes deixar como herança, são carências básicas, um pântano financeiro e uma população entorpecida pela nuvem que lhe dizem ser Juno.
Armindo Nunes. Artigo publicado no jornal "A Voz de Azeméis" a 11 de Dezembro de 2008.
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